NONSENSE: O ruído como mensagem
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Todo mundo sabe que se comunicar bem é uma arte.
Comunicar as coisas de maneira clara, eficiente, simples faz com que a comunicação seja a melhor possível. Correto?!
Bem, às vezes não fazer sentido algum é tão eficiente quanto significar algo de maneira precisa.
Vamos ao exemplo desta famosa citação:
“Mas se levarmos em conta que toda variedade de impossibilidades inerentes a uma mensagem, quando vista enquanto elemento motor em um dado aspecto, nos faz pensar na miríade de conjecturas do plano tácito.” – Adolf Hitler
É óbvio que nada disso faz sentido algum. Mal podemos compreender que diabos está sendo dito logo acima. No entanto nos parece familiar, há alguma coisa ali que parece querer fazer sentido, mas é completamente absurdo.
Esse é o nosso assunto da semana, comunicar através do ruido, ou “não comunicar”. Pra resumir: estamos tratando de algo conhecido como NONSENSE.
Estudar o ruído na comunicação é uma área enorme, que abrange desde as interações entre pessoas, até computadores e teoria de sistemas. Enfim, é uma campo muito sério e enorme que não temos gabarito para nos aprofundar.
Por isso o que queremos aqui é levantar a questão no universo que estamos habituados, o da publicidade.
Assim como o texto sem sentido lá em cima parece tentar nos dizer algo, temos que entender que nosso cérebro é antes de qualquer coisa uma máquina de procurar padrões. Isso que dizer que o tempo todo queremos dar sentido para tudo, mesmo quando não há sentido algum.
Tem gente que vê Jesus no vidro sujo, tem gente que só acende a luz do quarto com a mão esquerda, e a maioria de nós segue constantemente o mesmo trajeto para o trabalho todos os dias.
Mais do que gostar de padrões, precisamos deles. A lingua é um padrão, a música, as interações entre pessoas seguem um padrão, enfim vivemos nos repetindo sempre.
Mas o que acontece quando entortamos, distorcemos esses padrões? Bem, o NONSENSE é a arte de romper padrões para nos colocar em situações onde não conseguimos compreender a mensagem.
Longe de ser o primeiro, mas de enorme importância histórica, existiu um grupo de artistas na década de 20 que queria romper com tudo que pudesse ter sentido. Eles foram chamados de Dadaístas, um pessoal que fez questão de não fazer sentido sem no nome do movimento. Dada para eles era a palavra que menos faria sentido, assim a escolha “mais lógica”.
Pra resumir a conversa, durante os horrores da Primeira Guerra Mundial os artistas europeus viram que nada valiam os valores desta sociedade, a qual havia gerado uma guerra cruel e sem sentido. Assim, eles decidiram não participar deste mundo e resolveram ser não-artistas e produzir não-arte.
A única regra do dadaísmo é não seguir nenhuma regra conhecida. É claro que isso é impossível, pois no final das contas vivemos em uma cultura (sociedade) cheia de códigos e acordos, e o resultado do Dada foi mais uma ruptura dos códigos e suportes tradicionais do que realmente algo completamente alienígena.
CÃO ANDALUZ
No cinema, filmes que lidam em maior ou menor intensidade com o NONSENSE causam riso, chocam pela ruptura, revoltam, mas cumprem com aquilo que se propôe: tirar as pessoas de suas confortáveis posições e colocar o cérebro para trabalhar, tentando juntar pedaços de informações que aparentemente teriam sentido, mas na verdade não tem.
GUMMO
MONTY PYTHON
A internet é recheada de conteúdos completamente sem sentido, mas que causam algo nas pessoas.
É o caso do canal do Youtube HOW TO BASIC, uma série de vídeos “tutoriais” que teoricamente instruiriam as pessoas a construir coisas, resolver problemas pessoais e até mesmo mesmo ser mais sexy!
No entanto tudo que há é uma confusão de imagens, sons e sentidos, tudo em meio a ovos quebrados e uma sujeira tremenda.
VIDEO HOW TO STOP SNORING
No universo da publicidade o NONSENSE é algo recorrente.
Com tanta gente dizendo tanta coisa o tempo todo, muitas vezes quebrar a inércia do espectador com algo que o faça questionar “que diabos é isso” pode gerar um resultado positivo.
Foi o que aconteceu com a campanha da água mineral Vytautas da Lituânia. A comunicação do produto foi tão absurda e inusitada que fez o produto vender absurdamente mais, abrindo até mesmo para novos mercados fora do próprio país.
Os exemplos não faltam, veja abaixo:
O NONSENSE é uma “não-fórmula” que vem dando certo desde sempre e sempre seremos surpreendidos por mensagens que quebra nossos ritmos e nos fazem parar e pensar por um instante o que aquilo quer dizer.
E vocês?
Quais os casos de NONSENSE que se lembram?
Comentem abaixo para deixarmos essa conversa com mais ou menos sentido.
[Postagem atualizada]